Seria o futebol uma ferramenta capaz de acabar com o preconceito?

Com o bicampeonato conquistado no último domingo (15), as mesas de bares e outros locais de debate passaram a discutir um país especifico: a França. Enquanto alguns preferem falar sobre o futebol apresentado pela seleção dentro das quatro linhas e param por aí, outros priorizam a importância politica e social do esporte como um todo e seu impacto na sociedade.
Se os Bleus se destacaram nos gramados russos pelo elenco recheado de grandes nomes em todas as posições e vitórias imponentes contra rivais tradicionais como Uruguai e Argentina, a origem da maior parte do elenco campeão do Mundo é bastante curiosa. Em um país que tem na xenofobia um de seus grandes desafios a se superar, há descendentes de 17 nações diferentes na delegação de atletas que viajou à Rússia.
O presidente Emanuel Macron, apesar de ser considerado um político de centro, tem posições bastante rígidas a respeito da imigração: em maio, tropas de choque do governo expulsaram cerca de duas mil pessoas de um campo de refugiados em Paris. Além disso, a segunda colocada nas eleições presidenciais francesas do ano passado, Marine Le Pen era ainda mais radical quanto à questão dos imigrantes. 10 milhões de eleitores votaram nela e em suas ideias durante o segundo turno. Dentre suas propostas, uma das mais polêmicas se referia a manter a preferencia para contratar franceses em postos de trabalho. A tão sonhada meritocracia só existe de verdade na área esportiva?
Em 1998, ano em que a França sediou e venceu a Copa do Mundo, a geração Black-Blanc-Beur (negra, branca e árabe) tinha semelhanças com a atual de Mbappé, Griezmann e Fekir. O título contra o Brasil foi romantizado pelo presidente francês na época, Jacques Chirac, e por parte da imprensa, que acreditavam que o futebol havia reunificado a França. De fato, um sentimento de unidade nacional surgiu e o sentimento de patriotismo e de uma nação tolerante com todas as etnias cresceu. No entanto, foi só a euforia da Copa passar e as derrotas aparecerem que a intolerância voltou a reinar no “país da igualdade, liberdade e fraternidade”.
Até Zinedine Zidane, maior jogador da história do futebol francês, já passou por casos de discriminação. Nascido na Argélia, sua convocação era questionada no início da carreira, principalmente após a derrota na Euro 96. Benzema, supostamente afastado da seleção por problemas pessoais com Valbuena, também alega que os preconceitos instaurados no país o tiraram dos Bleus. Segundo o atacante do Real Madrid, enquanto a França está ganhando, todos estão unidos, já quando o time perde, a culpa recai sobre os imigrantes, considerados “falsos franceses” nos momentos de insucesso.
De maneira irônica, esse é um assunto em que o esporte não é totalmente o reflexo da sociedade. Se por um lado o time de Deschamps é formado por atletas das mais variadas etnias, por outro a marginalização de árabes e negros em outras áreas é evidente. Mais uma vez, o esporte teria avançado primeiro que o restante da sociedade?
Em outras oportunidades, a questão racial já foi abordada na seleção francesa, como mostra o documentário Les Bleus: Uma outra história da França. Em aproximadamente 90 minutos de vídeo, as filmagens mostram entre outras coisas, a discussão do ex-presidente Nicolas Sarkozy com Lilian Thuram. O lateral ficou indignado com a declaração do então ministro do Interior classificando pessoas que moram nas periferias como marginais e rebateu em coletiva de imprensa.
Em 2011, foi descoberto por um site investigativo um suposto esquema de cotas presente nas categorias de base do futebol francês que limitava a participação de negros e árabes em 30% dos jogadores das equipes. Apesar da entidade negar o caso, o escândalo abalou a Fédération Française de Football.
É lógico que ser campeão da Copa do Mundo não resolve problemas de séculos presentes em um país, todavia o futebol pode ser usado como instrumento para derrubar preconceitos e aumentar a tolerância entre as pessoas? Esperamos que sim. Deixe sua opinião nos comentários.
O presidente Emanuel Macron, apesar de ser considerado um político de centro, tem posições bastante rígidas a respeito da imigração: em maio, tropas de choque do governo expulsaram cerca de duas mil pessoas de um campo de refugiados em Paris. Além disso, a segunda colocada nas eleições presidenciais francesas do ano passado, Marine Le Pen era ainda mais radical quanto à questão dos imigrantes. 10 milhões de eleitores votaram nela e em suas ideias durante o segundo turno. Dentre suas propostas, uma das mais polêmicas se referia a manter a preferencia para contratar franceses em postos de trabalho. A tão sonhada meritocracia só existe de verdade na área esportiva?
Em 1998, ano em que a França sediou e venceu a Copa do Mundo, a geração Black-Blanc-Beur (negra, branca e árabe) tinha semelhanças com a atual de Mbappé, Griezmann e Fekir. O título contra o Brasil foi romantizado pelo presidente francês na época, Jacques Chirac, e por parte da imprensa, que acreditavam que o futebol havia reunificado a França. De fato, um sentimento de unidade nacional surgiu e o sentimento de patriotismo e de uma nação tolerante com todas as etnias cresceu. No entanto, foi só a euforia da Copa passar e as derrotas aparecerem que a intolerância voltou a reinar no “país da igualdade, liberdade e fraternidade”.
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Zidane, Desailly e Blanc: o retrato das várias etnias do time de 98 (Ativa FM) |
De maneira irônica, esse é um assunto em que o esporte não é totalmente o reflexo da sociedade. Se por um lado o time de Deschamps é formado por atletas das mais variadas etnias, por outro a marginalização de árabes e negros em outras áreas é evidente. Mais uma vez, o esporte teria avançado primeiro que o restante da sociedade?
Em outras oportunidades, a questão racial já foi abordada na seleção francesa, como mostra o documentário Les Bleus: Uma outra história da França. Em aproximadamente 90 minutos de vídeo, as filmagens mostram entre outras coisas, a discussão do ex-presidente Nicolas Sarkozy com Lilian Thuram. O lateral ficou indignado com a declaração do então ministro do Interior classificando pessoas que moram nas periferias como marginais e rebateu em coletiva de imprensa.
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Documentário está presente no catálogo da Netflix |
Em 2011, foi descoberto por um site investigativo um suposto esquema de cotas presente nas categorias de base do futebol francês que limitava a participação de negros e árabes em 30% dos jogadores das equipes. Apesar da entidade negar o caso, o escândalo abalou a Fédération Française de Football.
É lógico que ser campeão da Copa do Mundo não resolve problemas de séculos presentes em um país, todavia o futebol pode ser usado como instrumento para derrubar preconceitos e aumentar a tolerância entre as pessoas? Esperamos que sim. Deixe sua opinião nos comentários.
O futebol pode dar fim ao preconceito?
Reviewed by Matheus Moura
on
7/17/2018 07:37:00 AM
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